Por: Alex Pamplona*
A população da região do
Tapajós, no Estado do Pará, há anos sofre com o completo abandono por parte do
poder público, seja estadual ou federal. Os desafios, enfrentados diariamente,
não são considerados no momento de se construir as políticas públicas, que
deveriam servir para mitigar a dor, sofrimento e o descaso, que estamos sujeitos
constantemente.
Os homens e mulheres que
hoje ocupam a região, e que foram e são os responsáveis pelo desenvolvimento
desse lugar, não vieram apenas por suas vontades, estão aqui por conta de uma
política pública nacional, o famoso Plano de
Integração Nacional, que tinha o
intuito de integrar e unificar a Amazônia com o resto do País, além da proteção
da floresta em função de uma possível “internacionalização”, incentivando a
migração de pessoas de todas as partes do Brasil, com a promessa de que teriam
condições e infraestrutura para trabalhar, principalmente na agricultura e
manejo de madeira. Infelizmente as promessas não passaram de “promessas”, e as
pessoas se viram sozinhas, abandonadas e entregues à própria sorte.
Após quase 50 anos, a região ainda enfrenta muitos
desafios, que estão longe de ser superados, com especial destaque para: a) logística: estradas, ramais e
vicinais em péssimas condições de trafegabilidade; péssimo serviço de
fornecimento de energia elétrica e cobrança abusiva pelo serviço; transporte
aéreo inacessível - Na cidade polo da região, Itaituba, só existe uma companhia
aérea que faz voo comercial, que detém o monopólio do serviço, sem a
possibilidade de concorrência no valor e oferta poucos trechos (Manaus/AM,
Belém e Altamira/PA ) b) legalização da
extração mineral (outro): um conjunto de leis ambientais e de mercado,
impedem que o trabalhador e empresários se legalizem e realizem a compra e
venda do ouro de maneira adequada e legal. O que se vê, no entanto, é o sacríficio
do empresário local em benefício de grandes grupos e corporações internacionais
e, C) manejo florestal (extração de
madeira): A exploração madeira é um gargalo na vida dos empresários local,
pois como o travamento da questão fundiária e constante reordenamento territorial,
não se tem uma legislação sólida para que seja realizado um trabalho de
exploração de madeira de acordo com as normas ambientais.
Para os
municípios da região Oeste do Pará, a relação mineral (ouro), vai para além de
uma questão meramente econômica, o ouro é parte viva, histórica e cultural da
região, que, mesmo com o abandono e distância, conseguiu se autogerir, por meio
da cultura do ouro, cidades foram construídas, estruturas foram erguidas,
pessoas saíram da miséria e estudaram, tudo graças a extração do ouro.
Lamentavelmente,
o trabalhador e empresário (que está disposto a investir na região) é tratado
como bandido pela polícia federal, Ibama, Ministério Público e outras
estruturas governamentais. Está claro o empenho do poder público em isolar cada
vez a região, que é vista apenas como seleiro de investidores do capital
estrangeiro. Não existem os mecanismos de participação e escuta do povo, as
audiências públicas, quando realizadas, são pré-arquitetadas e já chegam com o
relatório de conclusão pronto, esperando apenas a assinatura nas listas de
presença, para legitimar a ação criminosa do Estado Brasileiro.
O
distanciamento entre as autoridades com a região é um problema que precisa ser
enfrentado e superado, somente com parceria e compreensão entre as partes
envolvidas será possível construir soluções criativas e empreendedoras para
mitigar o isolamento da região e produzir modelos de participação que
viabilizem a construção de um projeto de desenvolvimento regional que dialogue
com o internacional e nacional sem desconsiderar a realidade e especificidades
do local.
Alex Pamplona - Jornalista, radicado em Itaituba/PA
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